Roberto Carlos e Ivete Sangalo

quarta-feira, 16 de março de 2011

Será meu verdadeiro amor?


Baseada em dúvidas e contribuições que recebo comecei a questionar as bases de algumas relações ou as bases de alguns sentimentos que compõem uma relação que ainda nem começou.

Vejo pessoas que dizem o quanto amam verdadeiramente alguém que ainda não encontraram, alguém com quem conversam apenas por chats ou telefone e que sentem que essa pessoa é um grande amor, algumas vezes até "o" grande amor da vida. Pessoas que nunca se olharam, nunca se sentiram, nunca se tocaram, não conhecem os hábitos, as manias, os defeitos, as características mais íntimas de cada um, mas ainda sim convictos que o amor é enorme e verdadeiro.

Podemos entrar aqui em um debate sobre a possibilidade de um sentimento não ser verdadeiro, muitos podem se perguntar "como é possível eu sentir isso tudo e você dizer que não é real?" e talvez valha ou caiba sim algum tipo de troca e esclarecimento. Todo e qualquer sentimento é verdadeiro para o seu dono, claro que ninguém forja um amor, o sente como real mesmo quando as circunstâncias são ainda virtuais. Para aquele que vive a experiência o amor está ali, sendo profundamente vivido e sentido e não vou discordar de quem sente assim. É, entretanto, fundamental compreender quais são as bases que levam uma pessoa a se apaixonar por alguém que nunca viu e já imaginar uma vida juntos, compartilhada, linda, perfeita ao lado desse novo amor. O amor por alguém só pode ser compreendido como real quando verdadeiramente se conhece o outro, quando se convive, antes disso dizemos que é uma idealização do como se imagina que o outro seja, de como se gostaria que ele fosse. Sim, sonhar, fantasiar e idealizar é o início de tudo e acontece dessa forma com todos, mas para se chegar ao amor em sua essência ou até para se afirmar que se ama alguém é fundamental que se tenha a convivência, o conhecimento sobre as qualidades e os defeitos, o dia a dia para solidificar.

Vejo então que muitos dos que agem dessa forma, muitos que sentem como diz o título do filme "Nunca te vi, sempre te amei" serem embalados nessa dança por diversas razões e todas elas possuem em comum uma profunda dificuldade em lidar com a solidão e tudo que advém desse estado.

São, no geral, pessoas que se encontram sós há muito tempo, pessoas que romperam relacionamentos e não suportam lidar com a perda, pessoas que não sabem viver (ainda que temporariamente) em suas próprias companhias, pessoas carentes ou profundamente inseguras. Precisam prontamente da certeza que encontraram uma salvação, que encontraram aquele que irá lhes tirar das profundas dificuldades afetivas da vida e que nessa nova relação reencontrarão a alegria de viver. Amam o que querem amar e por isso dizemos que não amam o outro, amam suas idéias sobre o outro, amam o que pensam saber do outro, amam a fantasia, o sonho. Não percebem que são movidas acima de tudo por uma necessidade em aplacar o mal estar da vida que possuem

A busca por uma salvação, uma solução, não sustenta uma relação, passado um breve período irá acontecer o confronto com a realidade e o golpe será grande já que habitualmente há uma grande frustração em razão da diferença entre o sonho e a realidade.

Claro que nas conversas que antecedem um encontro, muito já é sentido, como empatia, aspectos em comum, valores e assim por diante, mas entre o interesse inicial e o amor que irão compartilhar um longo percurso precisa ser vivido e solidificado caso contrário não serão duas pessoas se relacionando e sim uma pessoa e seu sonho.

Para concluir é sempre válido lembrar que ainda que exista o intermédio de uma tela, para fora dela estão apenas dois seres humanos, abertos e dispostos para viverem uma relação, para compartilhar uma vida. O compartilhar começa desde o início, não no sentido apenas de dividir, mas no sentido de se perceber que existe um outro, que sente, que vive e que deve acima de tudo ser respeitado e não devorado pela urgente fome em ser amado.

Juliana Amaral

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