quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Porque os homens somem?
Tudo está parecendo ir muito bem: jantar romântico, cineminha a dois, telefonemas carinhosos... Até que o cara some. Nem mágica de Harry Potter seria capaz de encontrar o dito cujo, que não atende mais suas ligações. Ou então surge uma misteriosa ex-namorada que o leva embora, assim, de supetão. Pronto, é o suficiente para o festival de xingamentos: "cretino!", "desgraçado!". Mas, afinal, ele é canalha mesmo ou só não está a fim de você? Para alguns homens (e mulheres também!), dar um fora é uma atitude difícil e alguns artifícios polêmicos se fazem necessários para resolver um impasse sentimental.
A jornalista Paula Macedo, 28 anos, conheceu o engenheiro civil Alex numa happy hour, num barzinho no centro de São Paulo. Papo vai, papo vem, começaram a ficar. "Ele era uns cinco anos mais velho que eu, era aquele tipo homem mesmo: rosto bonito, corpão, forte. Enfim, não tinha como fazer jogo duro", conta ela. Passaram juntos quase um mês e meio entre muitas saídas, jantares e noites no apartamento dele. "Senti que ele estava empolgado e eu também. Ele me ligava, me requisitava. Se não estivesse querendo nada comigo, se achasse que o ritmo estava muito apressado, não me procuraria", acredita Paula.
TESTE: Ele é bonzinho ou canalha?
Até que num belo meio de semana, num dos muitos almoços que tinham juntos já que trabalhavam no mesmo quarteirão, Alex puxou um papo estranho. "Me disse que tinha recebido uma proposta de trabalho irrecusável, que ia para a Argentina dali a uma semana e que não nos veríamos mais. Foi um baque pra mim porque já estava cheia de planos, cheia de expectativas. Ele me disse que quando voltasse me procuraria, foi muito atencioso. Na hora, acreditei", lembra a jornalista.
As pernas curtas da mentira não duraram nem duas semanas. "Não tinham passado nem quinze dias da nossa despedida e eu o encontrei na Vila Madalena de mãos dadas com uma outra mulher. Quer dizer, não foi pra Argentina coisa nenhuma e terminou comigo porque já estava de olho em outra. Tenho certeza de que ele passou a mesma história para ela depois, canalha mentiroso", desabafa ela.
Será que mentiras sinceras não interessam diante de um caso que termina? Quando acaba o interesse, ao menos na opinião do professor Murilo Sanches, 36 anos, há que ser educado - o que não é necessariamente sinônimo de mentiroso. É que a verdade pode doer muito se mal interpretada. "Dependendo da mulher, é complicado você chegar e dizer: olha, acabou, não estou vendo mais graça. Vai começar aquela metralhadora de perguntas e, por mais que você diga que não, ela vai achar que o problema é com ela. Eu pensaria isso, dependendo da situação", comenta Murilo. "Até porque, muitas vezes, é mesmo. E isso não significa que a pessoa seja errada, não preste para nada. Simplesmente acabou o interesse por ela", completa, na maior sinceridade.
Supostas cafajestagens não são méritos exclusivos dos homens. O mesmo Murilo Sanches, que defendeu os discursos floreados em nome da sinceridade dolorosa, sentiu a coisa na pele. "Era uma mulher com quem eu estava ficando e me apaixonando. Era daquelas que você não acredita que caíram na sua vida de tão linda, tão ideal. Eu já estava igual a cachorrinho quando ela sumiu completamente. Parou de me atender, parou de me procurar e eu lá, babando. Queria pelo menos tomar um fora, só para ouvir o que ela tinha a me dizer", conta o professor.
Murilo fez plantão na porta da moça, de tão perturbado que estava. "Fiquei quatro horas esperando até que ela apareceu, surpresa e muito sem-graça em me ver ali, naquela atitude sem noção. Ela disse que tinha reencontrado o ex-namorado, cuja existência eu desconhecia e por quem se dizia muito apaixonada desde sempre. Havia voltado pra ele. Pediu perdão por ter sumido e disse que ficou sem ter o que me dizer. Então, isso é ou não é uma atitude cafajeste?", questiona ele, garantindo que a moça estava mentindo. "Estava na cara dela. Ela queria me dispensar, até com certa razão, porque eu estava mesmo muito carente naquela época. Diria alguma coisa parecida se uma mulher fosse fazer plantão na minha porta", reconhece.
Sumir é talvez a pior das cafajestices. "É covardia, coisa de homem medroso", aponta a fonoaudióloga Mariana Bendelack. Ela se define como um "Triângulo das Bermudas" de homens, que desaparecem depois de algum tempo de relação. "Não sei qual é o problema de dizer que não está mais a fim ou de inventar uma desculpa. Pelo menos denota que o cara tem alguma consideração por você. Quando um mané desses some, joga para cima de você um problema para resolver sozinha. Você fica sem saber se ofendeu, se fez alguma coisa errada, se é fedorenta ou se é coisa dele com ele mesmo. É de um egoísmo insuportável", reclama ela, que se diz avessa a indefinições. "Fico aflita. Me dá o fora logo! Acaba sempre que sou eu a escrever e-mails desaforados. Me sinto um picolé chupado - só sobra o palito que o cara joga no lixo", reclama.
Já o publicitário Breno Savino assume a porção cafajeste. Ele acredita que o mero fato de esconder a verdade para proteger já é uma atitude de princípios canalhas. "Tinha uma mulher que trabalhava na mesma agência que eu e fiquei de olho nela desde o primeiro dia. Mas era daquele tipo que quer namorar, noivar, casar, o processo todo. Eu não estava nada a fim disso, mas percebia que ela também me olhava, me dava mole, era maliciosa".
Breno bolou um plano infalível. "Numa festa que era a chance que eu tinha de pegá-la, passei uma conversa de que tinha namorada, que só poderia rolar aquela noite. Pronto, foi muito simples. Ficamos naquele dia e mais umas duas vezes, sem o menor problema. Ela ameaçou ficar um pouco culpada por estar sendo a outra, mas logo a distraí", conta ele que, afinal de contas, não vê mal nenhum nessa história. "Fui cafajeste mesmo. Mas não foi ótimo pra nós dois?", encerra ele.
Por Therezinha Pamplona
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