Roberto Carlos e Ivete Sangalo

terça-feira, 8 de junho de 2010

Construir,Desconstruir e Reconstruir


Quando um relacionamento se inicia dois momentos se sucedem. O primeiro momento quando há o ritmo acelerado da paixão, do enorme desejo em estarem juntos, do tempo que parece não passar se estão distantes, muitas conversas, trocas e o incipiente aprendizado de um sobre o outro. Há uma sensação de ritmo acelerado, o tempo parece ser diferente do tempo habitual. Inicialmente a relação se ofusca por uma grande idealização ou fantasia com relação ao outro, como não houve ainda tempo suficiente para conhecer mais profundamente quem está ao seu lado, cada um, em grande parte, gosta do que se imagina a respeito do outro. Essa, podemos dizer, é uma regra basicamente geral para todos os casais que se formam, geral e também necessária

Passado esse primeiro momento, gradativamente o casal encontra um outro ritmo, que será próprio de cada dupla, mas que gradualmente se transforma em algo mais lento, porém igualmente bom.

Nesse segundo momento acontece o que podemos chamar de construção e solidificação do vínculo, esse será o periodo em que cada um irá lidar dia a dia e cada vez mais com o parceiro real e não mais apenas com aquele parceiro "colorido" pela paixão. Ao longo dos meses, anos, tempo de vida que estarão juntos, pouco a pouco se conhecerá mais como cada um é, se distanciando do que inicialmente se sonhava ou se imaginava sobre o outro. Podemos dizer que é um momento real do relacionamento, onde se gosta do outro não mais apenas pelo que se imagina ou por suas qualidades, mas acima de tudo também será necessário aprender a gostar ou se ajustar aos defeitos, as diferenças, as falhas. O casal que atravessa essa longa fase de construção e conhecimento consegue ao mesmo tempo solidificar o vínculo e permanecer junto. Da paixão inicial desdobra-se o amor, a admiração, o companheirismo, enfim um amplo repertório de sentimentos mais elaborados e tão intensos e necessários quanto a paixão. O que podemos concluir do escrito acima é que nenhum vínculo forte e sólido se constrói do dia para a noite, em um piscar de olhos ou sem uma grande dose de investimento de ambas as partes, ou seja, é uma via de mão dupla que se constrói tempo a tempo, pouco a pouco e sem pressa, pois ao que tudo indica ela não acaba, na verdade se renova e refaz cotidianamente.
Agora, dando continuidade a sequencia do nosso título, vamos falar sobre o casal que por uma ou diversas razões chega ao final do relacionamento. Em muitas perguntas recebidas pelos usuários, uma grande parte envolve final do relacionamento e a pressa em recomeçar assim como o que fazer para logo esquecer e recomeçar.

Temos sempre que lembrar que assim como o vínculo, o amor e a relação demoraram dias, meses e até anos para verdadeiramente se solidificar, o mesmo precisará acontecer para que eles se desfaçam. Não está sendo dito que será feita uma conta matemática inversamente exata, mas que um tempo será absolutamente necessário para que a relação possa se desconstruir. Assim como a construção necessitou de uma razoável dose de investimento e adaptação, o mesmo investimento será necessário para pouco a pouco se desfazer o que existia. O amor e o vínculo formam uma trama intensa e complexa, não se liga e desliga de alguém como uma tomada, ainda que já não se goste mais ou não queira mais estar junto. Muito de cada um penetra na alma, no mundo interno, nos afetos do outro e mesmo que o relacionamento não esteja bom, a dupla já está impregnada de sentimentos complexos que precisam de um tempo de desconstrução e elaboração. A desconstrução no geral envolve a necessidade em se lidar com a perda, com a frustração, com o fim dos sonhos e projetos, com os sentimentos que ficaram e com o início da busca pela compreensão das razões pelas quais o relacionamento acabou. É um momento de intensa percepção da realidade.

Noto ser muito habitual, talvez um reflexo dos tempos atuais, uma urgência em se sentir logo bem ao final de um relacionamento. Muitos se consideram loucos ou fracos porque passado um mês "ainda" não conseguiram deixar de gostar do parceiro, com quem em muitos casos viveu e compartilhou a vida por anos a fio. O entorno social muitas vezes ao invés de ajudar e acolher exige de quem sofre que supere e fique prontamente bem, não respeitando o tempo que cada um irá precisar para curar e elaborar o sofrimento. Claro que um esforço individual é absolutamente necessário, passado o primeiro momento da ruptura é importante fazer uma real avaliação e reflexão sobre o relacionamento e de forma madura buscar compreender onde cada um errou, pontos que podem ser melhorados para um relacionamento futuro e assim por diante. Esse podemos dizer que é o tempo da reconstrução, o momento em que se pode e deve perceber o que se tinha, onde erraram, onde podem melhorar e quando a pessoa se dá conta que já se sente mais forte, inteira e integrada para abrir espaço para um novo vínculo.

Etapas que parecem simples, mas que são acima de tudo fundamentais para se chegar a um novo relacionamento mais livre e limpo das influências passadas. A história anterior será muito valiosa, pois a história compõe quem somos e como somos, mas também nos ajuda a aprender mais sobre quem somos e sobre nossas escolhas, sendo assim a influência dela sobre o futuro relacionamento será positiva e não uma bagagem pesada como costuma-se dizer popularmente.

Se permitir o tempo de luto e aprendizado, apesar de ser um paradoxo com a correria dos tempos atuais, é de grande valor para quem sofre e quem deseja verdadeiramente recomeçar uma história mais saudável e madura.


Dra. Juliana Amaral

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