quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
Delícias de viver uma paixão tão curta quanto intensa...
Por Mayra Stachuk
“Nem toda grande paixão resulta em namoro — ou casamento. Algumas parecem que surgem na vida da gente para nos mostrar um caminho ou retomar outros que havíamos perdido. E, assim como vieram, vão embora, de um jeito bonito, sem dor. Mas são inesquecíveis e provocam um calor na alma só de lembrar. Tive algumas paixões fortes. Namorei, me casei duas vezes. Sou bem feliz nesse meu segundo casamento e, por sorte, fui também no primeiro. Acabou com o tempo, nos tornamos amigos. Mas aquela paixão que tive numa ilha na Grécia foi diferente. Não era pra ser um namoro nem ter qualquer compromisso. Era mesmo pra ser vivida ali, naquele cenário de sonho. Eu tinha 25 anos e ‘mochilava’ pela Europa com minha amiga francesa — lindinha, com aquela pele branca, toda charmosa. Eu estava com seis quilos a mais, me sentindo meio esquisita, sem namorado havia meses, com pouca grana e com vontade de voltar para o Brasil depois de seis meses viajando. Não sabia o que iria encontrar aqui, voltaria sem emprego, sem casa (morava com amigas que se ajeitaram quando saí). Estava meio sem rumo, sem graça.
“É uma delícia quando a gente sabe que vai durar pouco, não tem cobrança de nenhum lado”Nós duas acampávamos no alto do morro nessa praia e na areia se espalhava uma verdadeira Babilônia: alemães, ingleses, espanhóis, gregos. Almoçávamos, bebíamos, festejávamos num único bar que havia. E, numa noite, vi um deus grego, digo, alemão, numa das mesas. Era alto, moreno, olhos azuis, um sorriso que tomava conta do bar. Com a minha autoestima no pé, jamais imaginei que aquele gato iria olhar pra mim. Mas foi pra mim mesmo que o Zig, esse era o nome dele, se interessou! Sentamos na mesa, ele ofereceu uma cerveja, veio puxar assunto. Contou que tinham ido pescar, perguntou o que eu fazia, de onde eu era. Era um fofo, gentil. Disse que estudava arquitetura, mas falava mal inglês... A gente tinha de se entender meio por mímica. Não foi difícil. Eu ficaria mais uns dez dias na Grécia e minha programação era ir até Creta nesse meio tempo. Mas, nos dias que se seguiram, a atração entre mim e o Zig era como ímã. Não desgrudávamos, passeávamos de mãos dadas, viramos o casal da praia. Ele estava numa barraca com uma turma de amigos e eu numa casinha de pedra — espécie de acampamento que um vai deixando para o outro — com a minha amiga. Demorou uns dias para acontecer a primeira transa. Mas valeu esperar. Foi linda, na praia, quando todos estavam no bar. Não estávamos preocupados se alguém ia ver. Parecia que a praia era só nossa. Era uma harmonia plena. É uma delícia quando a gente sabe que vai durar só aquele momento: não tem cobrança de nenhum lado. Transamos mais algumas vezes, mas o que importava era estar junto. Claro, desencanei de ir a Creta — que não vai sair de lá e o Zig eu não saberia quando veria de novo.
Mas chegou a hora de ir embora. Minha viagem era meio programada com minha amiga e eu tinha uma passagem comprada para voltar ao Brasil — voltaria de Amsterdã. No dia da despedida foi uma choradeira geral — nós viramos uma turma, junto com os amigos dele e o resto da Babilônia.
Durante o final da longa viagem — que durou mais um mês — aquele encontro alimentou minha alma. Senti vontade de perder aqueles quilos que teimavam em ficar, voltei a olhar as vitrines e, pouco a pouco, minha autoestima começou a dar sinal de vida. Comecei a fazer planos para quando retornasse pra casa, com a sensação de que tudo daria certo (como de fato deu: consegui emprego logo, fui morar num apartamento legal em São Paulo). Eu e o Zig nos falamos mais duas vezes por telefone, mas não marcamos de nos ver de novo. Nosso encontro foi mágico e ficou naquela ilha da Grécia. E, sem dúvida, mudou algo dentro de mim. Não fosse por ele, talvez eu voltasse para o Brasil com um outro astral — e o recomeço, sem dúvida, seria bem mais difícil.”
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