segunda-feira, 20 de junho de 2011
Dar e Receber!
Quando eu participava de um grupo em uma casa espírita, todos os meses
doávamos alimentos para compor cestas básicas que eram distribuídas às
famílias carentes da comunidade.
A cada mês, um grupo se encarregava de trazer arroz, outro, feijão, e
assim por diante, a fim de que se compusesse a cesta.
Em determinado mês, coube ao meu grupo trazer café. Nada poderia ser
mais simples: um quilo de café, não importava a marca.
No entanto, a coordenadora nos alertou: “Combinem entre vocês para
trazerem apenas café em pó ou café solúvel. Porque as pessoas reclamam
que receberam de um tipo e as outras de outro. Então, melhor que seja
tudo igual.”
Por muito tempo, refleti sobre isso. As famílias eram carentes,
recebiam cestas de alimentos que com certeza supriam suas necessidades
imediatas. Então por que reclamavam? Afinal, não pagavam nada!
Um dia, me caiu nas mãos um livro, intitulado “Trapeiros de Emaús”.
Contava a história de uma comunidade iniciada por um padre, para
pessoas que eram o que chamaríamos de “Sem Teto”.
Um trecho me chamou a atenção. O padre contava suas experiências em caridade.
Quando menino, ele costumava acompanhar seu pai que todos os meses,
doava um dia de seu tempo para atender pessoas carentes. O pai era
médico, mas como já havia quem atendesse às pessoas nesse setor, ele
se dedicava a cortar cabelos, profissão que também exercera.
O menino percebia que embora seu pai executasse seu serviço de graça e
com amor, as pessoas reclamavam muito. Exigiam tal ou tal corte e às
vezes quando iam embora, xingavam o pai porque não haviam gostado do
corte.
Mas o pai tinha uma paciência infinita, tentava atender ao que lhe
pediam e jamais revidava as ofensas, chegando até mesmo a pedir
desculpas, quando alguém não gostava do trabalho que ele realizara.
Então, um dia, o menino perguntou ao pai por que ele agia assim. E por
que as pessoas reclamavam de algo que recebiam de graça, que não
teriam de outra forma.
“Para essas pessoas, disse o pai, receber é muito difícil. Elas se
sentem humilhadas porque recebem sem dar nada em troca. Por isso elas
reclamam, é uma maneira de manterem a autoestima, de deixar claro que
ainda conservam a própria dignidade”.
“É preciso saber dar, disse o pai. Dar de maneira que a pessoa que
recebe não se sinta ferida em sua dignidade.”
Depois li um livro de Brian Weiss em que ele contava que uma moça
estava muito zangada com Deus. A mãe dela morrera, depois de vários
anos de vida vegetativa, sendo cuidada pelos outros como um bebê
indefeso.
“Minha mãe sempre ajudou os outros, nunca quis receber nada, não
merecia isso”, dizia ela.
Então, ela recebeu uma mensagem dos Mestres:
A doença de sua mãe foi uma bênção, ela passou a vida ajudando os
outros, mas não sabia receber. Durante o tempo da doença, ela
aprendeu. Isso era necessário para a sua evolução.
Depois de ler esses dois livros, comecei a entender a atitude das
pessoas que reclamavam do que recebiam nas cestas básicas.
Comecei também a refletir sobre essa frágil e necessária ponte entre
as pessoas que se chama “Dar e receber”.
Quando ajudamos alguém em dificuldade, quando damos alguma coisa a
alguém que a necessita, seja material ou “imaterial”, estamos
teoricamente em posição de superioridade. Somos nós os doadores, isso
nos faz bem e às vezes tendemos a não dar importância à maneira como
essa ajuda é dada.
Por outro lado, quando somos nós a receber, ou nos sentimos
diminuídos, ou recebemos como se aquilo nos fosse devido.
E quantas vezes fizemos dessa ponte uma via de mão única?
Quantas vezes fomos apenas aquele que dá, aparentemente com
generosidade, mas guardando lá no fundo nosso sentimento de
superioridade sobre o outro… Ou esperando sua eterna gratidão.
E recusamos orgulhosamente receber, porque “não precisamos de nada,
nem de ninguém”… Ou porque temos vergonha de mostrar nossa
fragilidade, como se isso nos fizesse menores aos olhos dos outros.
E quantas vezes fomos apenas aquele que tudo recebe, sem nada dar em
troca, egoisticamente convencidos de nosso direito a isso…
A Lei é “dar com liberalidade e receber com gratidão” ensina São
Paulo. Que cada um de nós consiga entender as lições de “Dar e
receber” e agradeça a Deus as oportunidades de aprendê-las.
Texto de Tania Vernet
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