segunda-feira, 19 de julho de 2010
Quase sessentona: sete perguntas que não querem calar
Por Katia Auvray -
A expressão soa parecida a um insulto: fulana já é quase sessentona. O que, exatamente, isto significa para as mulheres comuns - não as artistas - as que não passam os dias com um personal training, não usam Botox e que ficaram longe das clínicas de estética e mesas de cirurgia para puxar aqui e esticar acolá?
Para as que se preocupam com aquelas coisinhas básicas - tão femininas - quanto não abusar dos doces, controlar o aumento de uns quilinhos, uma roupa bonita, um pouco de maquiagem, um bom corte de cabelos, as unhas feitas semanalmente e, sim, um pouco de atividade física. A saúde? É ótima - nem aspirina toma. Planos? Muitos. Disposição? Em alta. Vá lá que a pele já não é tão lisinha, que leves manchas marrons salpiquem as mãos e que o corpo não seja um primor estético. Ah! E que sempre que possível, um sapatinho baixo ocupe, com um suspiro de satisfação, o lugar dos elegantes saltos altos.
Uma conhecida minha notava um certo cuidado dos amigos, quando citavam alguém como idoso - já pelos 60 anos - e que, ao olharem para ela, rapidamente minimizavam o comentário. Constrangedor. Só servia para aumentar suas dúvidas, entrincheiradas em aspectos triviais do cotidiano, como:
UM: Desejo voltar ao mercado de trabalho e tenho uma entrevista marcada. Não é constrangedor uma "quase sessentona" se apresentar ao lado da moçada (vejam o que virou) para disputar o trampo - ops - a vaga?
DOIS: Não sei se é adequado olhar gulosamente para um belo espécime. Será que ouvirei algo ofensivo ou ofensivo foi o meu olhar?
TRÊS: Virei avó - mas não me pareço nem um pouco com uma. Acho que uma visitinha de tempos em tempos é ótima. Todo dia? Aff, nem pensar!
QUATRO: Adoro roupas coloridas e modernas, chapéus, bonés e bijuterias. Devo usar outras coisas porque não tenho mais 25?
CINCO: Quando fico muito alegre obedeço (ainda) ao ímpeto de saltitar e gritar. Muita gente ficou boquiaberta (gostou? sim? não? sim?).
SEIS: Faço piadinhas cáusticas até sobre minhas próprias desgraças. Estou engraçadinha demais para a idade?
SETE: Sexo, sexo, sexo... Será que já passou o tempo? Muitos me olham como se tivesse virado anjo que, segundo a lenda, não tem sexo (que lamentável!).
No século 21, algumas respostas para estas e uma centena de outras questões são: "Seja você mesma". "Não importa a idade que você tem". "Idade é uma questão de cabeça, de estado de espírito". Bah!
Existe um fosso - para dizer o mínimo - entre os ótimos conselhos repetidos por uma infinidade de categorias profissionais e o dia-a-dia. A definição de "idoso" é mais controversa na prática do que as próprias controvérsias existentes nas leis, como a Constituição Federal, que menciona 65 anos, a Política Nacional do Idoso, cujo limite é de 60 - o mesmo adotado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) - e o Código Penal, que estabelece a idade de 70 anos.
Os idosos (considerados a partir de 60 anos) são hoje 14,5 milhões de pessoas - 8,6% da população total do Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base no último Censo, o de 2000. Esta população vive, em média, 68,6 anos e, estima-se, que em 2020 a expectativa de vida atinja mais de 70 anos, perfazendo 13% da população. Idosos não são importantes apenas porque engrossam índices. Grande parte deles chefia famílias - 62,4% dos homens e 37,6% das mulheres - somando 8,9 milhões de pessoas, fora 54,5% deles que vivem com os seus filhos e os sustentam.
Afora as indispensáveis e adequadas políticas desenvolvidas pelos governos e organismos internacionais para estabelecer os direitos dos idosos, entre outras questões, não seria razoável promover uma gigantesca campanha nacional que inculcasse na cabeça da população que, na prática, alguém quase sessentona pode oferecer muito mais do que bolos, reumatismo e toalhinhas de crochê?
----------------------------------------------------------------------
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário