terça-feira, 31 de janeiro de 2012
Tecnologia x Relacionamento
Em uma entrevista dada à respeito de relacionamentos virtuais, um jovem universitário americano de 28 anos apontou como ponto positivo a seguinte idéia “Sempre se pode apertar a tecla de deletar” .
Uma frase que condensa em poucas palavras as novas regras ou possibilidades de relacionamentos, assim como a forma e o terreno onde os mesmos começam e terminam.
Inúmeros são os artigos e pesquisas que abordam o tema sempre com o objetivo de compreender um idioma que se torna cada vez mais comum entre os jovens, que causa dúvidas nos mais convencionais e que dita o rumo para onde as relações tendem a caminhar.
O surgimento da tecnologia abriu caminhos e portas, recriou estruturas, redefiniu comportamentos e ampliou formas de relação, reduziu barreiras, possibilitou acesso rápido a conhecimentos distantes, aproximou o mundo e suas diversas culturas. Acima de tudo instituiu um universo com linguagem própria capaz de ser falada e compreendida por todos ainda que sejam de origens distintas e distantes entre si.
Em meio a essas transformações as relações vão se moldando, encontrando novas formas, se equilibrando, tentando sobreviver. Vimos muitas e cada vez mais pessoas que criam e se refugiam em seus cibermundos, vivem neles uma gama infinita de sonhos, sentimentos, desejos, fantasias, um mundo aparentemente quase real, não fosse pelo fato que se entra e sai nele com o apertar de um botão, liga-se e desliga-se sem que se tenha que lidar com a intensidade característica do mundo real, com os conflitos reais, com as demandas de um parceiro real, com a complexa dinâmica e desordem do mundo real.
Fácil, infinitamente mais fácil ser amigo de trezentos nas redes sociais do que cinco na rede real. A euforia virtual encanta enquanto se torna um convite à fuga dos sofrimentos humanos reais. Por vezes funciona como um depósito de sentimentos gerados fora da tela de um computador e que não encontra vazão suficiente nas relações familiares ou nos amigos e companheiros reais. Todos estão aparentemente muito próximos e conectados quando na realidade sentem-se mais distantes e solitários.
Cada vez mais sós em seus sentimentos, muitos se lançam e naufragam em seus cibermundos, criados, personalizados e adaptados para suas demandas. Fazem parte deles aqueles que por se encaixarem em critérios pré-definidos foram eleitos os ideais de amigos, de parceiros, de namorados enquanto os reais possuem falhas demais, demandas demais, são complicados demais. Vimos o conflito das relações sólidas, profundas e verdadeiras versus as efêmeras, frágeis e acima de tudo descartáveis. Ora, se uma relação real precisa acontecer em terreno sólido, com muito empenho e trabalho dos dois lados, como seria possível encontrar firmeza naquelas que funcionam apenas na presença virtual, porém na ausência real? Muitos não se interessam pela resposta já que o importante é estar conectado... Conectado com o que? Com quem?
Para muitos o ciberespaço representa uma proteção contra uma realidade intensa, dura e complexa demais, uma fuga dos sofrimentos, dos conflitos, das dúvidas que compõem a natureza humana. Os riscos da realidade tornam-se mais distantes à medida que uma determinada pessoa se lança a esse mundo abstrato e paralelo e assim segue uma vida imaginária perfeitamente moldada para si.
Estar no mundo real, vivê-lo plenamente, intensamente, lidar com conflitos, medos, riscos é certamente mais humano e sem dúvida real. Possivelmente muitos não querem pagar o preço do compromisso, mas ao optar por esse caminho perdem pouco a pouco sua humanidade, automatizam relacionamentos, padronizam o comportamento e por fim plastificam a vida. Perde-se o essencial do humano, a capacidade em entrar em contato, algo muito diferente do estar conectado, e aos poucos perde a capacidade de estar com o outro.
A internet trouxe infinitas possibilidades e imensas transformações, importante, porém não sermos devorados por tanta tecnologia à ponto de corrermos o risco de transformamos o que não precisa ser mudado. É necessário que saibamos construir pontes que nos levem a novos caminhos, a mais conhecimentos, mas que também nos tragam de volta à vida real e humana, da qual nunca devemos nos afastar por tempo longo demais.
Um abraço,
Juliana Amaral
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